domingo, 22 de novembro de 2009

Os palestinos tornando-se judeus e a omissão de Barack Obama

Lourenço Cardoso
(texto escrito em 2009 publicado In: http://www.portalafricas.com.br/?pg=ver_artigo&id=237)

O presidente eleito Barack Obama tem se omitido em comentar o massacre vivido pelo povo palestino no território da Faixa de Gaza praticado pelo Estado de Israel. Assim como esperado, o governo do presidente George W. Bush apoiou os israelenses.
Porém nos chama a atenção, a atitude omissa do Srº Barack Hussein Obama que somente se restringiu em pronunciar que está preocupado com os mortos palestinos e israelenses, no entanto, não pode tomar nenhuma outra atitude, porque ainda não assumiu a presidência dos Estados Unidos.
Os judeus, um grupo étnico, que enfrentaram a tentativa de extermínio contra seu povo durante a Segunda Guerra Mundial, ao conquistarem um Estado-nação no Oriente Médio passaram a praticar crimes semelhantes aos praticados pelos alemães nazistas contra eles. Isto é, o Estado de Israel está matando mulheres, crianças, adultos, idosos, sem distinção, sempre com o apoio irrestrito do Estado norte-americano e inércia da Comunidade Internacional.
Obviamente, muitos israelenses também estão sendo mortos pelos palestinos, apesar de ser numa proporção menor. Sem dúvida, é igualmente condenável essas mortes, portanto, considero deplorável tanto o assassinato de judeus, quanto de muçulmanos, que ocorre durante anos neste infindável conflito no Oriente Médio.
Porém, o Estado norte-americano parece somente se importar com a morte dos judeus e, lamentavelmente, o novo presidente eleito indica que seguirá essa mesma linha de política internacional. Apesar de assegurar que se preocupa também com os palestinos, sua atitude, nesses dias, parece indicar que não pretende contrariar os interesses dos judeus norte-americanos e israelenses. O Srº Barack Obama poderia ao menos mencionar se seu governo continuará apoiando o Estado de Israel incondicionalmente, assim como ocorreu na administração Bush.
Durante a campanha eleitoral, Barack Obama se autodefiniu como mestiço, ou “marrom”, estratégia política que não impediu que ele fosse classificado como negro aos olhos do seu próprio país e do cenário mundial. Isto significa que, o ilustre ex-senador de Illinois, para inúmeras pessoas, pertenceria a um grupo de “minoria”; grupo “oprimido”.
Apesar de sua pertença étnica e racial, refiro-me as essas categorias como construto social, Barack Obama tem sido negligente diante do genocídio praticado por dois grupos considerados étnicos em seu próprio país, ou seja, os judeus e os muçulmanos. Isto é, o conflito no Oriente Médio pode ser considerado, com base nas teorias raciais e étnicas de língua inglesa e portuguesa, um conflito de um grupo étnico contra outro grupo étnico; “um grupo de minoria” contra “outro grupo de minoria”.
Grupo considerado de “minoria” étnica e racial, sobretudo, em sociedades racistas de territórios que vivenciaram tanto a colonização anglo-saxônica, quanto a colonização ibérica, contexto em que o Brasil e os Estados Unidos se encaixam.
Grupos que são considerados minoria nacionais, mesmo quando é controverso a constatação que os não-brancos sejam minorias, pelo menos quantitativa, em sociedades como a brasileira e, talvez, a estadunidense, assim como aduz o intelectual Stuart Hall[1].
Certa vez, acerca do conflito no Oriente Médio, José Saramago comentou o seguinte: a guerra israelenses versus palestinos lembraria a luta bíblica de Golias versus Davi. Entretanto, o Golias contemporâneo seria os judeus e o Davi os palestinos.
Por outras palavras, os poderosos tanques de guerras israelenses lutam contra as “fundas”, ou seja, as atiradeiras de pedra dos palestinos. Poucos discordam que a guerra é uma prática humana horrível, no caso do Estado de Israel, não se trata de guerra, e sim, de um ato de genocídio devido o desequilíbrio de forças bélicas entre os dois lados.
No conflito na Faixa de Gaza inúmeros “Davis” são assassinados; essas mortes são veiculadas minimamente pela televisão, para não estimular a revolta popular no mundo, cabendo aos celulares com suas máquinas fotográficas digitais tornar público pela Internet imagens de corpos mutilados e mortos, driblando as censuras.
Diante disso ousaria dizer que os israelenses, refiro-me somente aos responsáveis pela matança, podem ser visto, nos dias de hoje, como os alemães nazistas de outros tempos, e o povo palestino como os judeus de outrora, numa triste reinvenção do episódio do holocausto.

[1] Stuart Hall (2005), A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro, 10ª. ed. Rio de Janeiro: DP&a, pp. 82 - 83.

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