domingo, 14 de novembro de 2010

Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista

Lourenço Cardoso

Na literatura científica de maneira geral as pesquisas sobre a branquitude têm se restringido em investigar a branquitude crítica, deixando de lado a branquitude acrítica. A branquitude crítica refere-se ao indivíduo ou grupo branco que desaprovam publicamente o racismo. Enquanto que a branquitude acrítica refere-se a branquitude individual ou coletiva que sustenta o argumento em prol da superioridade racial branca. Este artigo possui a preocupação em salientar a importância de distinguirmos a branquitude crítica e a branquitude acrítica. O que pode parecer apenas uma simples distinção pode nos levar a analisar com maior atenção e profundidade o crescimento e fortalecimento de grupos neonazistas e membros da Ku Klux Klan: grupos que representam dois significativos exemplos da expressão da branquitude acrítica.

Confira no link:
http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3235857

segunda-feira, 12 de abril de 2010

endoidar com segurança

eu gosto é
dos…
maus
mausu
mal-------------------
-------------sucedidos

esse que escuta
como tu
foste estúpido!

daquele=============
que jamais
teve a coragem de ousar,
ou brincar

pessoa essa que vive
a delinear
o melhor momento para endoidar
com segurança


Lourenço Cardoso

Os contra-racistas versus os contra-racistas e a ausência do racista

Lourenço Cardoso
(Texto escrito em 2006 publicando In: PPPCor)

No Brasil, o projeto de lei de Cotas (PL 73/1999) e o Estatuto da Igualdade Racial (PL 3.198/2000) que será submetido a uma decisão final no Congresso Nacional suscitou o manifesto de “intelectuais” e militantes “a favor” e “contra” as políticas de ação afirmativa (políticas de AA).
Esse debate possui um aspecto curioso. Os dois manifestos se colocam contra o racismo, portanto, reconhecem a existência do racismo, e se posicionam como anti-racistas implicitamente e explicitamente.
É curioso que o debate sobre as políticas de ação afirmativa, ocorra somente entre as partes que são anti-racistas. Se ambos manifestos são anti-racistas, podemos concluir que eles apesar das posições antagônicas possuem o mesmo objetivo, o combate ao racismo. Aliás, esse é também um dos objetivos daqueles que argumentam “a favor” da aplicação dessas políticas.
Nesse debate sobre políticas públicas encontramos a presença do racismo. Ele é o ponto de convergência entre os dois manifestos. A divergência é a maneira de combatê-lo ao utilizar ou não utilizar as políticas de ação afirmativa. Um manifesto é “contra”, e o outro “a favor”, os dois manifestos foram suficientemente argumentados, e compete ao leitor tirar as suas próprias conclusões. Eu particularmente, posiciono-me “a favor” desse tipo de políticas.
Se existe um consenso entre os dois manifestos sobre a existência do racismo. Do mesmo modo, percebe-se nos dois manifestos a ausência de se problematizar o racista. Onde se encontram os racistas? Qual a posição dos racistas? Há racismos sem racistas?[1] O posicionamento contra o racismo elimina os racistas?
Se eu dissesse, que ser contra a política de ação afirmativa é a posição de um racista, acho que estaria sendo injusto, reducionista e insensato, por isso não digo. No entanto, não podemos fechar os olhos para os racistas brasileiros.
Acredito que esses racistas são provavelmente contra as políticas públicas que privilegiem os negros, eles são provavelmente contra discriminações, “discriminação positiva”, discriminação “a favor” de negros e “indígenas”. Esses racistas personagens ausentes desses dois manifestos, talvez, ao defenderem a idéia de que são contra as discriminações, alargam-na. Talvez argumentem que são contra todos os tipos de discriminações.
Sugiro que esses racistas são contra as políticas de ação afirmativa porque se é difícil encontrar no Brasil alguém que se declare racista, pior, será encontrar um racista a favor de políticas públicas destinadas aos não-brancos.
Talvez o racista, esse “ilustre ser ausente” desses dois manifestos, dessa discussão sobre o racismo, esteja presente em ambos os manifestos. Ao meu ver, o mais hipócrita, ou mais maquiavélico talvez seja o racista presente no manifesto contra as políticas de ação afirmativa.
Caro leitores, dito isso, de maneira nenhuma, pretendo insinuar que todos aqueles que são contra essas políticas são racistas, nada disso! De maneira nenhuma pretendo insinuar que os racistas escreveram um manifesto, que fez com que os anti-racistas reagissem. Nesse ponto, vale uma nota, geralmente, o negro anti-racista é reduzido a um sujeito que somente reage ao racismo branco, em outras palavras, esse negro seria incapaz de pensar e fazer qualquer outra coisa, que não fosse reagir ao racismo branco.
Caro leitores, assim como dizia, nem todos aqueles que são contra as políticas de AA são racistas, talvez, existam racistas a favor dessas políticas pelas suas próprias razões.
O estranho é que nesse debate contra o racismo suscitado pelas políticas de ação afirmativa, seja realizado somente entre as partes que reconhecem o racismo e se colocam explicitamente ou implicitamente contra o racismo. Estranha-me também o fato de que no debate contra o racismo, o racista seja um ilustre sujeito ausente. Há racismos sem racistas? Há racistas sem racismos? Porque se referir ao racismo e se calar quanto aos racistas?
Esse debate suscitado por esses dois manifestos sugere, que discutamos os estudos, ou realizemos novos estudos sobre o suposto racismo institucional praticado e reproduzido pelas universidades. Esse debate suscita pensarmos em maneiras de combater os racismos e os racistas. A política de ação afirmativa não seria em princípio uma proposta nesse sentido? Não seria uma alternativa para combater o racismo institucional acadêmico, entre outros racismos?
Parece óbvio, que podemos pensar, e debater outras alternativas, talvez pouquíssimas pessoas sejam contra debater alternativas, talvez, pouquíssimas pessoas sejam contra a melhora da qualidade do ensino público fundamental e médio. E desde quando as políticas de ação afirmativa são um impedimento para a melhoria da qualidade do ensino básico?
Melhorar a qualidade do ensino médio e fundamental é dever de qualquer governo, e uns dos nossos direitos fundamentais. Se a qualidade do ensino não vem ocorrendo as políticas de ação afirmativa não têm responsabilidades a esse respeito. Qual a contradição que existe entre a melhora do ensino público fundamental e médio e ao mesmo tempo aplicar as essas políticas? Alguém pode me explicar?
Se de um lado pensarmos que nesse debate sobre as políticas de ação afirmativa re-alimentado por esses dois manifestos, o que inquieta é a ausência da problematização sobre o racista, e a naturalidade com que não é percebida, ou referida essa ausência. Esse debate configurado como tal com essa ausência, penso que, já começa sob os alicerces da hipocrisia.
Essa ausência de se problematizar o racista é um dos indicativos dessa hipocrisia. E se o debate é feito sob os alicerces da hipocrisia, inevitavelmente corremos o risco de caminhar para manutenção do status quo. Manutenção do status quo que convém aos racistas, diga-se de passagem.
Por outro lado, podemos pensar que não é tão estranho assim: um debate contra o racismo realizado somente entre anti-racistas. Um debate com a ausência da reflexão sobre os privilégios do racista numa sociedade racista, afinal, ainda se escuta muito a frase: “aqui ninguém é racista!” E se ninguém é racista no Brasil, parece evidente que o debate sobre racismos seja restrito somente aos anti-racistas; anti-racistas esses com as melhores intenções.

[1] Santos, B. S. 2002. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, 63: 237-280.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A branquitude ressentida e Barack Obama

Barack Obama foi o primeiro presidente negro eleito nos Estados Unidos. Ele em sua campanha procurou desvincular sua imagem da idéia de raça. No jogo das identidades, apelou para sua identidade nacional, distanciando-se da identidade racial. O senador argumentou que era mestiço: filho de mãe branca americana e pai negro africano. A idéia implícita que o senador procurou passar durante o desenrolar da disputa eleitoral foi que a raça não era importante. Ele enquanto candidato ambicionou tanto os votos dos brancos, quanto dos negros, assim como todos os políticos, procurou angariar votos sem distinção.
Será que a raça não é realmente importante? Se a raça não fosse relevante por que o senador Barack Obama teve de enfatizar esse recado de maneira direta e inequívoca, e também muitas vezes de forma implícita? Talvez mais adequado seria o senador sustentar que a idéia de raça não deveria ser considerada relevante, ou seja, no sentido de ser um fator de vantagem e desvantagem.
Entre os negros norte-americanos a maioria votou em Barack Obama; negros que são pessoas distintas, inclusive pertencentes ao Partido Republicano, que disputou com o Partido Democrata do presidente eleito, que também teve a maioria dos votos dos latinos, isto é, voto étnico. Portanto o resultado apontado na apuração indicou o dado racial e étnico, como elemento significativo que influenciou a escolha.
Em sua campanha, quando o Barack Obama “falou”, ou se “calou” estrategicamente sobre sua pertença racial, sua intenção seria justamente de não perder votos porque é negro. Todavia, aceitou de bom grado os votos recebidos por causa de sua pertença racial. O presidente Barack Obama foi considerado negro aos olhos da opinião pública mundial, especialmente por causa das imagens e notícias veiculadas pela mídia, apesar do Srº Obama ter se esquivado dessa identidade racial, durante o decorrer de sua campanha.
A branquitude - que seria a identidade racial branca[1] -, sempre se vangloriou de sua condição de poder imanentemente superior, neste momento, com a vitória de Barack Obama a branquitude começa a tomar também para si o argumento de que a raça não é importante. Porém, se trata de uma branquitude ressentida que passa a sustentar esse discurso, porque não suporta ver, ou pior, ser obrigada a obedecer um negro que se encontra num nível hierárquico superior, daquele que ele historicamente sempre ocupou.
Por isso, neste momento, ouviremos muitas vezes da “boca” da branquitude o discurso: “de que o negro não seria negro”, “assim como branco não seria branco”, “mesmo porque a raça não existe”. Contudo no íntimo a branquitude ressentida, simplesmente não admite estar num patamar inferior ao negro. Até o presente momento na história norte-americana, nenhum presidente necessitou deparar-se com a idéia de raça presente e persistente a todo instante em sua campanha de forma direta ou indireta. Logo, o argumento de que a raça não é importante possui intenções diferentes, que dependerá muito da pessoa, ou grupo que o professa.
Nesta perspectiva da abolição do conceito de raça, destaca-se o intelectual Paul Gilroy[2]. Esse autor propõe o abandono da utilização política e analítica da idéia de raça, porque esse seria o melhor caminho para o fim do racismo, levando-se em consideração que a raça não deixa de ser uma idéia que o opressor inventou.
No caso da branquitude ressentida, a idéia de que a raça não existe seria defendida por causa da sensação de incômodo do branco, que entra em crise quando se depara com um negro num cargo de maior poder e prestígio, que é a posição que o branco sempre ocupou. A convincente vitória eleitoral de Barack Obama expõe essa branquitude ressentida. Nos Estados Unidos ela poderá ser encontrada expressa nos discursos dos brancos eleitores, ou simpatizantes do Partido Republicano que apoiaram o senador branco John MacCain.
O presidente “negro” (ou talvez “mestiço”), o Srº Barack Obama também expõe a branquitude revoltada, expressa na branquitude acrítica[3]. Essa branquitude acrítica refere-se aos brancos que não desaprovam o racismo publicamente como, por exemplo, os membros dos grupos neonazistas e da Ku, Klux, Klan, que já ameaçam assassinar Barack Obama. Simplesmente porque ele seria negro, ou, talvez, mestiço que possui uma parte negra, que seria para eles inaceitável. Mesmo porque eles seriam “brancos puros”, por isso, únicos cidadãos autenticamente estadunidenses.

[1] Acerca da branquitude confira: CARDOSO, Lourenço. O branco “invisível”: um estudo sobre a emergência da branquitude nas pesquisas sobre as relações raciais no Brasil (Período: 1957 – 2007). (Dissertação de mestrado), Faculdade de Economia e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 2008. Também CARONE, Iray e BENTO, Maria Aparecida da Silva (org.) (2002), Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

[2] Acerca do fim da idéia de raça confira: GILROY, Paul (1998), “Race ends here”, Abingdon, Oxford: Ethnic and racial studies, vol. XXI, nº 5, 838-847.

[3] Acerca da branquitude acritíca confira: CARDOSO, 2008: 178-180.

Lourenço Cardoso

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Obama encontra finalmente o seu ritmo de governo na presidência

07/04/2010

Der  Spiegel
Klaus Brinkbäumer

Barack Obama desceu do seu pedestal e começou a governar com uma mistura de idealismo e pragmatismo. Os Estados Unidos perderam um pregador, mas o que não falta nesse país amargamente dividido são pregadores. Finalmente, 14 meses após a posse de Obama, os Estados Unidos contam com o presidente reformista do qual o país necessita.

Passados 14 meses desde a posse de Obama, os norte-americanos finalmente têm um presidente. Eles perderam Santo Barack, o pregador mundial.

A ascensão dele foi ofuscante, e isso era parte do problema. Essa ascensão foi tão irreal quanto a chegada de um salvador. Foi uma ingenuidade, mas Obama fez uma campanha eleitoral ingênua: nós podemos mudar, eu darei a vocês um governo que cura.

Essa abordagem logo fracassou, porque o mundo real jamais é ingênuo.

Agora a esquerda nos Estados Unidos diz que Obama traiu não só os ideais dela, mas os do próprio presidente, afirmam que ele cedeu demais e foi muito brando, acusam-no de ser um professor na Casa Branca, um homem impotente, um Jimmy Carter negro. Já a direita vocifera que ele traiu os princípios norte-americanos e o vê como um comunista e um esbanjador do dinheiro do contribuinte. Isso o enfraqueceu. O governo israelense está se preparando para ignorar o presidente problemático até que os norte-americanos escolham um outro candidato para ocupar a presidência. O presidente afegão Hamid Karzai permite que o seu convidado de honra – o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad – fale mal dos Estados Unidos enquanto soldados norte-americanos protegem Cabul. Mas isso também provavelmente passará: o mundo real não é uma caricatura.

Estas são as semanas do retorno de Obama. Após a sua aparição e crucificação, nós estamos presenciando um processo de secularização. A Casa Branca está se reajustando e encontrando o seu equilíbrio. A reforma do sistema de saúde, finalmente aprovada, deverá fornecer cobertura a 32 milhões de cidadãos e representa uma vitória de Obama sobre o establishment de Washington que há anos é marcado pela paralisia congressual.

Obama deu continuidade a sua tendência a preencher cargos importantes por decreto presidencial. A seguir houve o avanço nas negociações para desarmamento com a Rússia, e depois disso ele seguiu para o Afeganistão. O que estamos presenciando é um início atrasado de ação por parte do presidente.

Um país agressivo e dividido

Todo mundo sabe que existem dois Estados Unidos. Franklin Delano Roosevelt era detestado por milhões de pessoas, Kennedy era odiado pela direita, Nixon pela esquerda, Clinton pela direita, Bush pela esquerda. Os Estados Unidos são um país agressivo. Às vezes isso faz dele um país dinâmico, outras vezes um país destrutivo.

As diferenças entre norte-americanos e europeus são maiores do que muitos europeus pensam. Para os norte-americanos conservadores, o consenso europeu de que um governo forte tem que ajudar os fracos é um ataque à liberdade. Para a direita norte-americana, “solidariedade” e “social” são palavras do vocabulário de provocadores.

Obama tentou modificar esse clima fazendo pregações sobre dever e responsabilidade, e obteve o resultado oposto: paranoia. Teorias conspiratórias e exageros pairavam sobre as entrevistas televisivas do presidente. E além disso houve o movimento Tea Party, e todas as advertências quanto a imigrantes, moradores das grandes cidades, intelectuais, pesquisadores do clima, ativistas da campanha contra armas, políticos, mulheres e negros – em suma, tudo o que ameaçaria os valores norte-americanos básicos.

Os Estados Unidos são um país complicado que passa por uma onda de mudança demográfica que o tornará ainda mais complicado. Nas próximas eleições, os Estados Unidos branco ver-se-á praticamente impossibilitado de vencer os negros e os imigrantes hispânicos caso esses dois blocos juntem forças. A classe média branca teme essa mudança e está nervosa. Senadores são alvos de cusparadas, Sarah Palin aconselha os cidadãos a “recarregarem”, as milícias se armam. O jornal “The New York Times” falou de uma “imitação em pequena escala da Noite dos Cristais”.

A profundeza do abismo não tem precedentes, e também é sem precedentes o fato de a direita estadunidense não ver mais Obama como o seu presidente. “Esse sujeito negro é o seu presidente” - sentenças desse tipo são uma novidade.

É claro que é possível governar em tal clima, mas não será um percurso suave. Um dos maiores erros de Obama foi acreditar na sua visão messiânica de uma presidência que transcenderia as linhas partidárias. Agora ele está governando com paixão, estrategicamente e com cabeça fria.

A democracia não exige harmonia, ela não exige sequer consenso. Tudo o que ela necessita é de uma maioria. Obama desceu do seu pedestal e ao que parece pretende seguir implementando reformas nos quase três anos de presidência que ainda tem pela frente. Um governo meio à esquerda, com um pouco de idealismo e uma dose de pragmatismo, se necessário.

Tradução: UOL

(Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/04/07/obama-encontra-finalmente-o-seu-ritmo-de-governo-na-presidencia.jhtm)

domingo, 28 de março de 2010

Câmara dos EUA aprova histórica reforma da saúde proposta por Barack Obama


Obama abraça seu vice, Joe Biden, após aprovação. Foto: Jason Reed/Reuters

WASHINGTON - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos deu aprovação final para a reforma no sistema de saúde do país no domingo, expandindo a cobertura para quase todos os norte-americanos e dando ao presidente Barack Obama uma vitória histórica. Em uma votação de 219 votos favoráveis e 212 contrários, os democratas da Câmara aprovaram as mudanças mais significativas nas políticas de saúde em quatro décadas. O projeto, já aprovado pelo Senado, vai agora para a sanção de Obama.

A Câmara de Representantes dos EUA aprovou neste domingo a histórica reforma do sistema de saúde do país, por 219 votos a favor - três mais do que o necessário - a 212 contra. O projeto de lei corresponde ao que o Senado já tinha aprovado em dezembro do ano passado. O presidente Barack Obama deve sancioná-lo ainda nesta semana. Junto aos 178 congressistas republicanos na Câmara, um total de 34 democratas votou "não" à medida.

A reforma ampliará a cobertura para 32 milhões de norte-americanos, expandindo o plano de saúde do governo para os pobres, impondo novas taxas aos mais ricos e proibindo práticas de seguradoras como se recusar a atender pessoas com problemas médicos já existentes. A votação põe fim a um ano de batalhas políticas com os republicanos, que consumiu o Congresso dos EUA e abalou as taxas de aprovação do presidente.

Obama celebrou a vitória em um discurso na Casa Branca. "Nesta noite, num momento em que especialistas diziam que não era mais possível, nos elevamos sobre o peso da nossa política", disse o presidente. "Essa lei não consertará tudo que afeta nosso sistema de saúde, mas certamente nos levará decisivamente na direção correta. É com isso que a mudança se parece", disse.

Os democratas na Câmara comemoraram quando o número de votos chegou a 216, total necessário para a aprovação, e gritaram: "Yes, we can" ("Sim, podemos"), slogan da campanha que elegeu Obama. Todos os republicanos se opuseram ao projeto e 34 democratas se juntaram a eles ao votarem contra a reforma.

Horas antes, os democratas tinham conseguido uma primeira vitória na votação sobre a reforma da saúde, ao aprovar um voto de procedimento por 224 votos a favor frente a 206 contra. Do lado de fora do Capitólio, manifestantes contra a reforma presentes ao longo do dia todo pediam para "jogar no lixo" a medida.

Os democratas asseguraram os 216 votos necessários para aprovar a reforma depois que o líder de um grupo de congressistas antiaborto que se opunham à medida, Bart Stupak, anunciou que tinha chegado a um acordo de última hora com a Casa Branca e os líderes de seu partido. Stupak reivindicava garantias de que a reforma não permitiria o uso de fundos federais para a prática de abortos.

Mediante o acordo anunciado hoje, o presidente Barack Obama emitirá uma ordem executiva que deixará claro que não se poderão usar esses fundos para as interrupções voluntárias da gravidez, salvo casos extremos.

(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,congresso-dos-eua-aprova-reforma-historica-da-saude,527409,0.htm)

domingo, 21 de março de 2010

Malcolm X: O negro mais furioso de todos os furiosos fez muitas pessoas mudarem o pensamento a respeito de si mesmos

Lourenço Cardoso
(texto escrito em 1999 publicado no site Mundo Negro)












Malcolm X nasceu em Omaha, no estado de Nebraska, Estados Unidos. Quando estava com seis anos, seu pai Earl Little, um dedicado trabalhador para UNIA (Associação para Melhoria Universal do Negro) foi violentamente assassinado. Após brutal espancamento, foi jogado na linha do trem com corpo quase partido em dois, ainda não morreu ali, agonizou mais algumas horas.
Louise Little, mãe de Malcolm com 34 anos, assumiu o sustento dos seus oito filhos. Ela possuía pele clara e arrumava empregos domésticos. Os empregos duravam até descobrirem que ela era negra. Louise também passou a receber dois cheques, um pensão de viúva, outro da assistência social. Este dinheiro não era suficiente, e com seu desemprego freqüente tornou-se uma família, praticamente, de indigentes.
As assistentes sociais do governo atormentavam Louise, com a intenção de encaminhar seus filhos para lares adotivos, como ela se opunha, começaram insinuar, a tramar sua insanidade. Louise passou por intensas pressões que a levou a um colapso nervoso. Ensejo que o Estado aguardava para trancafiá-la em um hospital de doentes mentais.
Malcolm já havia sido adotado e, em 1937, viu sua família ser destruída. Os dois irmãos mais velhos, Wilfred e Hilda foram deixados à própria sorte, Philbert foi levado para casa da família em Lansing, Reginald e Wesley foram viver com a família Willians, Yvone e Robert com a família McGuire.

A universidade das ruas

Quando terminou a oitava série, Malcolm foi morar em Boston na casa de sua meia irmã Ella. Fez amizade com Shorty, esticou os cabelos, passou a beber, fumar, cigarros, baseados, jogar cartas, jogo dos números e aprendeu a dançar muito bem. Sua melhor parceira era Laura, uma singela negra que morava com a avó e sonhava forma-se na universidade. Ele a namorou, levou-a aos bailes, porém numa destas festas, trocou-a por uma mulher branca, uma mulher loura, chamada Sophia. Laura, no futuro próximo, cairia na prostituição. Malcolm confessou: “Umas das vergonhas que tenho carregado é o destino de Laura..., tê-la tratado da maneira como tratei por causa de uma mulher branca foi um golpe forte demais”.
Malcolm entre outros empregos, a exemplo de engraxate, trabalhou na ferrovia, depois resolveu se mudar para o Harlem. Alugou um apartamento onde várias das inquilinas eram prostitutas. Sophia ia de Boston para o Harlem visitá-lo. Algum tempo depois, casou-se e manteve-o como amante.
No Harlem, Malcolm também morou na casa de Sammy, um amigo cafetão, e entrou para o “mundo do crime”, tornou-se traficante. Aproveitou o bilhete que ganhou, quando trabalhou na ferrovia, e foi traficar nos trens. Estava cada dia mais difícil vender nas ruas, a polícia estava “fechando o cerco”, os artistas que conhecia – seus clientes – adoraram a idéia. Naquele tempo, temia três coisas: cadeia, emprego e o exército para se livrar do serviço militar, fingiu-se de louco.
Depois do término das viagens traficando, perdeu a conta dos golpes que deu no Harlem. Não podia mais vender maconha, a polícia já o conhecia. Passou a praticar seus primeiros assaltos, e se preparava para esses trabalhos com drogas mais fortes. Era viciado no jogo dos números, quando ganhava, convidava Sophia para passar alguns dias em Nova York. Sua vida marginal levou-o a se meter em tantas encrencas no Harlem que acabou ficando num “beco sem saída”, estava “jurado de morte”. Sammy ligou para seu velho amigo Shorty vir buscá-lo, levá-lo de volta para Boston.
Em Boston, foi morar com Shorty em seu apartamento. Quase todos os dias assim que o amigo saia para trabalhar, como saxofonista, Sophia encontrava-se com Malcolm, e ele arrancava-lhe todo o dinheiro. O marido de Sophia havia arrumado emprego de vendedor, e viajava constantemente.
Para sair da inatividade Malcolm propôs a Shorty que assaltassem casas. Formaram um grupo com a participação de Rudy, amigo de Shorty, Sophia e sua irmã. Sophia havia apresentado sua irmã para Shorty e os dois passaram a namorar. O primeiro trabalho foi um sucesso, e depois vieram outros e outros...
No entanto, “todo ladrão espera o dia em que será apanhado”. Chegou o dia inevitável de Malcolm, Shorty e Sophia e sua irmã, somente Rudy conseguiu escapar. As duas mulheres tiveram penas reduzidas pegaram de um a cinco anos. Malcolm disse: “Apesar de serem ladras eram brancas”. Quanto aos dois negros, seu próprio advogado de defesa confessou: “Vocês não deveriam ter se metido com mulheres brancas”. Shorty pegou de oito a dez anos, e Malcolm dez anos.

A importância da leitura

Na prisão por causa de sua atitude rebelde e anti-religiosa, Malcolm ficou conhecido como Satã. Reginald escreveu-lhe uma carta dizendo que descobrira a verdadeira religião do homem preto. Ele pertencia a Nação do Islã, Malcolm respondeu a carta com palavrões. Recebeu outra, escrito: “Não coma carne de porco e pare de fumar que eu lhe mostrarei como sair da prisão”. Estas palavras ficaram em sua cabeça.
Reginald sabia como funcionava a mente marginal do irmão, havia passado uma temporada com ele no Harlem. Quando foi visitá-lo Malcolm estava ansioso para saber como não comendo carne de porco livrar-se-ia da prisão. Afinal qual golpe havia tramado, e passou a ouvir Reginald falar sobre Elijah Muhammad. Seu irmão contou que: Alá viera para a América e se apresentou a um homem chamado Elijah – um homem preto – afirmando que o homem branco é o demônio.
A mente de Malcolm, involuntariamente, recordou todos os homens brancos que conheceu. Ao ir embora Reginald deixou seu irmão pensando, com seus primeiros pensamentos sérios. Malcolm pensou nos brancos que tinham internado sua mãe, os que tinham matado seu pai, os brancos que haviam destruído sua família, em seu professor branco que assegurou que: “é absurda a idéia um negro pensar em ser advogado”. Apesar de suas notas altas, Malcolm deveria ambicionar ser carpinteiro.
Quando Reginald voltou, viu o efeito que suas palavras haviam provocado em seu irmão, e falou mais sobre o demônio que é o homem branco. Seus outros irmãos também passaram a escrever, a falar sobre Honrado Elijah Muhammad. Todos recomendaram seus ensinamentos que classificavam como o verdadeiro conhecimento do homem preto. Malcolm titubeou, todavia, acabou-se se convertendo ao islã, tornou-se muçulmano negro.
Graças aos esforços de Ella, Malcolm conseguiu ser transferido para uma prisão colônia de Nolfork que era de reabilitação profissional, muito melhor do que as outras por onde havia passado, e a biblioteca era um de seus elementos principais. Para responder as cartas, e se corresponder com Elijah Muhammad começou a ler muitos livros, tornou-se um leitor voraz, em seus anos de prisão, leu desde os clássicos aos mais populares.
Sobre os filósofos fez o seguinte comentário: “Conheço todos, não respeito nenhum”, disse também: “A prisão depois da universidade é o melhor lugar para uma pessoa ir, se ela estiver motivada, pode mudar sua vida”; “as pessoas não compreendem como toda a vida de um homem pode ser mudada por um único livro”. Além da leitura, copiou um dicionário inteiro para compreender melhor os livros.
Em 1952, Malcolm foi libertado e saiu em caravana para visitar o Templo Número Dois, assim eram chamadas as mesquitas. Ele finalmente ia ouvir Elijah Muhammad que ao final de sua fala chamou Malcolm, pediu que ficasse em pé, e diante dos olhares de uns duzentos muçulmanos, contou uma parábola a seu respeito.
A partir de então, Malcolm passou a colaborar com Templo Número Um, ele participava da “pescaria” que era atrair os jovens, e se saia muito bem, afinal, conhecia a “linguagem dos guetos”. Recrutava nos bares, nos salões de sinuca e esquinas dos guetos, o Templo Número Um, de Detroit, em três meses triplicou o número de fiéis. Malcolm já havia recebido da Nação do Islã o seu “X” que significava seu verdadeiro nome de família africana que deus lhe revelaria. Para ele o “X” substituía o Little, o pequeno, herança escravocrata.
No verão de 1953, Malcolm X foi nomeado ministro assistente do Templo Número Um e passou a freqüentar a casa de Elijah Muhammad, era tratado como filho. Malcolm devido sua fidelidade, inteligência, oratória, cultura, personalidade..., obteve um desempenho extraordinário na Nasção do Islã que resultou numa ascensão meteórica. Em curto intervalo de tempo tornou-se o principal ministro de Muhammad, levando-o a ser transferido para o templo de Nova York – o mais importante.
Meio a sua vida agitada, Malcolm passou a reparar em uma moça chamada Betty, o interesse era recíproco, consultou Muhammad e casou em janeiro de 1958. Mal casou, e via-se Malcolm, em toda parte, trabalhando pelo crescimento da Nação do Islã. Em suas polêmicas diárias o que mais o irritava, eram certos líderes negros os quais acusava que: “suas organizações tinham corpo preto com cabeça branca”.

X e King

Em 1963, Kennet B. Clark entrevistou, em separado, para um programa de televisão: James Baldwin, Martin Luther King e Malcolm X. Esta entrevista originou o livro “O Protesto negro” nesta publicação encontra-se algumas divergências entre “X” e “King”.

Malcolm X critica a política de não-violência:
“Todo o negro que ensina o outro negro oferecer a outra face, desarma-o. Todo negro que ensina o outro a oferecer a outra face diante do ataque rouba-lhe o direito divino, seu direito moral, seu direito natural, o direito natural à defesa. Todos os seres de natureza têm esse direito e têm razão de exercê-lo. Homens como King têm por profissão ensinar os negros a ‘não reagir’. Ele não lhe diz para ‘não lutarem entre si’. ‘Não reajam contra o homem branco’ é a essência de sua pregação, pois adeptos de Martin Luther King matar-se-ão entre si, mas nada farão em defesa própria contra os ataques do homem branco”.

Martin Luther King defende as sua idéias:
“Não vejo o amor como uma inconseqüência emocional neste contexto. Não vejo como fraqueza, mas como uma força que se organiza em poderosa ação direta. É isto que venho tentando ensinar no sul: que não nos enganamos numa luta para cruzar os braços, há uma grande diferença entre a não-resistência a maldade e a resistência não-violenta. A não resistência conduz a um estado de passividade e uma complacência mórbida, ao passo que a resistência não-violenta significa resistir decidida e determinadamente. Parece que algumas críticas, e críticos da não-violência ainda não compreenderam o seu sentido vigoroso, confundindo não resistência com resistência não violenta”.

Elogio e traição

Malcolm fundou um jornal chamado “Muhammad Fala” que levou revistas mensais a darem reportagens de capa sobre os muçulmanos negros. Não demorou muito para que Malcolm fosse convidado para participar de mesas redondas de rádio, televisão e universidades, entre elas Havard, para defender a Nação do Islã, enfrentando intelectuais negros e brancos.
Elijah Muhammad disse para Malcolm: “Quero que você se torne muito conhecido, pois você se tornando conhecido, também me tornará conhecido”. Malcolm tornou-se realmente conhecido, tornou-se uma personalidade estadunidense que muitas vezes chamou a atenção do cenário mundial, mais do que Martin Luther King e o presidente John F. Kennedy.
O seu destaque gerou ciúmes no próprio Elijah que não possuía a coragem e perspicácia de Malcolm para discutir, por exemplo, com professores universitários. A intensa exposição e repercussão da figura de Malcolm X contribuíram para alimentar entre enciumados muçulmanos negros que ele tentaria tomar o controle da Nação do Islã.
Duas antigas secretárias de Muhammad entraram com processo de paternidade. Malcolm ao conversar com elas descobriu que enquanto Elijah Muhammad o elogiava pela frente, tentava destruí-lo pelas costas, e aguardava o momento oportuno para afastá-lo. A morte de John Kennedy e a declaração polêmica de Malcolm a respeito foram o ensejo.
Ele que tanto se dedicou, e com certeza foi uns dos – senão o principal responsável – pelo crescimento da Nação do Islã foi afastado. Malcolm em seu trabalho árduo, praticamente, não adquiriu bens materiais. Bens que poderiam gerar algum conforto à sua família, no caso de sua falta, porém sempre acreditou que se alguma fatalidade lhe ocorresse os muçulmanos negros cuidariam de sua família.
Malcolm ficou sabendo do seu banimento através da imprensa. Sofreu humilhações públicas com manchetes como esta: “Malcolm silenciado”. Os muçulmanos negros também conspiraram para que ele fosse considerado traidor, a punição para a traição é o ostracismo e a morte. A ironia é que Malcolm sempre foi fiel a Muhammad, falava sempre em nome de Muhammad, renunciava a própria personalidade em favor de Elijah Muhammad.

Meca

Patrocinado por Ella, Malcolm viajou para Meca com o objetivo de conhecer melhor o islã. Agora admitia que Elijah Muhammad havia deturpado esta religião nos Estados Unidos. Ao voltar de sua viagem, estava para iniciar uma nova fase em sua vida. Ele que teve tantas reviravoltas em sua agitada história.

Em uma entrevista coletiva, perguntaram-lhe:
“Você ainda acredita que os brancos são demônios?”
Respondeu:
“Os brancos são seres humanos na medida que isto for confirmado em suas atitudes em relação aos negros”.

Movido por suas novas idéias, Malcolm fundou a Organização da Unidade Afro-Americana: Grupo não religioso e não sectário – criado para unir os afro-americanos –. No entanto, em 21 de fevereiro de 1965 na sede de sua organização, Malcolm recebeu 16 tiros calibre 38 e 45, a maioria deles atingiu o coração.
Malcolm foi assassinado – com apenas 39 anos – em frente de sua esposa Betty, que estava grávida, e de suas quatro filhas. Escreveu M.S. Handler: “Balas fatais acabaram com a carreira de Malcolm X antes que ele tivesse tempo para desenvolver suas novas idéias”

[...] pai Preto dizia/ todos os negros são alienados/ e eu sou o mais alienado/ de todos os alienados/ quando me atrevo/ em meus tiros/ há sempre dois pretos/ a revidar/ além dos dez brancos/ quando falta um “irmão”/ não desperdiço munição/ espero outro tio Tom/ o brancu disse/ vivemos numa democracia racial/ e alguns pretus que legal/ que alegria/ agora temos uma teoria/ pretos raço-democratas/ que morre/ que mata/ para não perder sua paz/ para se sentir parte/ de uma sociedade/ a qual nunca pertenceu/ Meu!/ se toca/ tocou-se o branco/ agora a briga é de/ brancu com branco/ e os negros tranqüilos/ preferem ficar com/ o velho conhecido/ gritam os Pretos/ os Movimentos Negros/ negras anti-raçodemocratas/ se auto-afirmando/ “Raça”/ “Raça”/ e vem o brancu/ distante da prática/ da “Raça”/ aquele que impõem/ a gramática/ dizendo/ que piada/ não existem “Raças”/ eliminou-se a/ “Raça”,/ e não o racista/ e quem são/ Pois não/ Os que não/ são raço-democratas/ Por enquanto nada/ Até outro branco teorizar/ todos sabem.../ mas é sempre bom lembrar/ a opinião que vale é branca/ cabe ao negro no máximo confirmar [...] (“Negros e brancos raço-democratas” poesia de Lourenço Cardoso).

No jornal “Folha de São Paulo”, em 22 de fevereiro de 1965, foi publicado em primeira página, com foto em destaque: “O líder racista Malcolm X foi assassinado”. Esta reportagem indica a repercussão da morte de Malcolm em nosso país, e o engano com que ainda – hoje em dia – atribuem a sua imagem.
Apesar dos quase “40 anos” de sua morte, sua influência segue forte, e sua história inspira e difunde luta por justiça. No Brasil, na atualidade, ouvimos rappers do Movimento HIP HOP, numa postura crítica, se autoproclamarem: “Cachorros loucos!” Não seria esta “titulação” re-elaboração da frase a qual muitos e o próprio Malcolm X se referia a si?: “Todos os negros são furiosos e eu sou o mais furioso de todos os furiosos”.


Referência bibliográfica:

CARDOSO, Lourenço. O Peso do mundo. São Paulo, edição do autor, 2002.
CLARK, Kenneth B. O Protesto negro James Baldwin, Malcolm X, Martin Luther King. Trad. Wladimir Gomide, Rio de Janeiro, Guanabara, Laemmert, 1963.
FOLHA DE SÃO PAULO, 22 de fevereiro de 1965.
HALEY, Alex. Autobiografia de Malcolm X. Com a colaboração de Alex Haley. Trad. A.B. Pinheiro de Lemos, 2a. Edição, Rio de Janeiro, Record, 1992.
MEALY, Rosemary. Fidel & Malcolm X: Lembranças de um encontro. Trad. Marta Cardoso Moreira Lima. Niterói, RJ, Casa Jorge Editorial, 1995.

erros e vícios

ela/ele, talvez
nem ela/nem ele
são anjos
/
monstros

santos que estupram anjos

são iguais e diferentes/
diferentes e iguais,
aquilo que nunca se diz:
não tratem os outros como
gostaria de ser tratado

ela/ele
estiveram sempre no lado certo:
leia-se errado

são versos contra a unanimidade
questões ao inquestionável
manual prático
do que
não se deve ser

o estatuto da não-lei
a gramática dos erros e dos vícios
padrão em pichar e derrubar
placas de hospitais

escrito:
não fume!
escrito:
silêncio!

ela/ele
escrevem asneiras,
tratados de asneiras,
doutoraram-se em
defendem o

sorriem feito Coringa
morrem e ressuscitam
feito
o super-mem
anti-Nietzsche
são amados pelo o mundo
e odiado pelos íntimos

reinventam a pólvora
e mutilam-se a si próprio
na escolha entre si
e os outros

fumam, bebem e filosofam
sobre os formatos da fumaça,
e o sobre o formato
das chamas
que antecedem a fumaça



Lourenço Cardoso