quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

PARÓDIA: ÁGUAS DO TIETÊ

É o José, é o Gilberto é o fim da cidade
É o precatório, é o frango, é a condenação na justiça
É a catraca eletrônica, é a repressão ao camelô
É o Paulo, é o estupra mais não mata, é o vote em mim!

É promessa feita no calor da eleição
É o candidato ofendendo e depois convidando para a refeição
É povo votando, é o povo esquecido
É político bonito, fazendo feio, é o Fernando, é o Fernando
O Gilberto dormindo tranqüilo é um mistério profundo

É a greve dos perueiros, é a greve dos camelôs
É a greve do motorista e cobrador, é o mande-os embora

É a chuva, outra enchente
É o deus nos acuda! É outra família perdendo
os móveis comprados com muito suor

É o pivete cheirando cola na igreja

É o preto, é madrugada, é a polícia
É o pare, é a mão na cabeça, é o chute no “saco”
É escárnio, é a humilhação, é a carteira
do trabalhador jogada no chão,
é outro insulto, é outro tapa, é a senhora que passa,
é a mãe, é a mãe; é a rua deserta, é madrugada,
é a policia, é o preto, é a morte, é a morte!

Melhor sorte aos sobreviventes
Peça à deus para que seus filhos pareçam brancos, senão é má sorte, é a morte!

É a mão calejada, é o rosto enrugado,
é o bóia fria, é o sem bóia nenhuma
É a menina em Cuiú Cuiú, com a “placa de vende-se”

É o de paletó se aposentando, depois de oito anos
É o vagabundo se aposentando aos sessenta

É a máfia da saúde, é a máfia da previdência
É o ministro da justiça, líder do presidente cassado

É o Fernando viajando, e os caipiras pagando
É o presidente jantando na Europa, e o povo comendo calango

É a seca, é a sexta básica

O desvio do rio São Francisco
é promessa para a próxima eleição

É o Fernando, é o Antônio, é o Paulo, é a negociata

São as águas do Tietê arrasando a cidade
São promessas de doenças para a população

É a chuva, é a enchente, é a casa alagada
É o nordestino morrendo de sede e fome no sertão

É a ponte despencando, é o trânsito parado
É a poluição, é o aumento da tarifa, é o motorista assassinado
É o José mandando, é o Gilberto obedecendo

São as águas do Tietê arrasando a cidade
São promessas de doenças para a população

É o desastre da saúde, é o povo pagando
É a dengue, é a cólera, é a tuberculose, é a doença extinta

São as águas do Tietê arrasando a cidade
São promessas de doenças para a população




Lourenço Cardoso

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