domingo, 15 de novembro de 2009

Racionais MC's versus preconceito da mídia

Lourenço Cardoso
(Texto escrito em 2002 publicado In: http://www.apropucsp.org.br/jornal/jornal_415.htm)

A matéria “Tem disco novo dos Racionais, tá ligado?” assinada por J.M no jornal Estado de S. Paulo, Caderno 2 (18/07/2002) que informa sobre lançamento do mais recente “disco” dos Racionais MC’S: Nada como um dia após o outro está enxurrada de comentários irônicos, desdenhosos e pejorativos. Em síntese, o jornalista sustenta que: o novo trabalho dos Racionais não tem profundidade, nada traz de novo, o único mérito que possui é de ser o melhor do gênero porque os outros rappers são péssimos[1].
J.M ofende e acusa os Racionais de ignorantes: “Esquizofrênicos, falam de coisas que não conhecem, disparam a torto e à direita” E mostra-se ignorante: “Em A Vítima, Mano Brown usa o rap com um sentido terapêutico, lembrando de um acidente que protagonizou na Marginal em 14 de outubro de 1994”.
Este jornalista erra quando coloca Mano Brown como protagonista do acidente na Marginal Pinheiros se tivesse lido seu concorrente não daria esta gafe:

" ‘A vítima’ - No disco essa é a faixa número 6, ela merece uma atenção especial, pois nela Edi Rock relata um acidente ocorrido há quase oito anos atrás. (...)’" (http://www2.uol.com.br/manuscrito/especiais/especial004.shtml)

J.M alimenta sua estupidez ao escrever sobre o que não conhece e compreende... Caro jornalista, antes de escrever faça uma pesquisa mínima! Não é o Mano Brown o protagonista envolvido no acidente, é o Edi Rock, Mano Brown estava em outro carro. Este jornalista ousa escrever sobre os Racionais; tece criticas e atesta não conhecer os componentes do grupo.
Outra tolice, de J.M foi ao comparar os Racionais com os personagens que aparecem no filme A Hora do Show: “[Racionais] Alternam pieguice com pregação da violência e muita confusão ideológica, como a daqueles militantes do filme Show Time, do Spike Lee, que seqüestram o sapateador para linchá-lo via satélite”.
Se fosse cuidadoso, não se concentrasse em escrachar... chegaria a concretude que os Racionais têm mais semelhanças com o Lee do que com uns dos seus personagens caricaturais, nesta obra de Lee a critica essencial é a respeito do negro estereotipado.
Ao ler as matérias dos veículos grandes de comunicação, ao ler “J.M’S” lemos jornalista que escreve, não jornalista que pensa, diferença substantiva. Basta de picarescos que falam a respeito do pobre com menosprezo, basta de covardes classe média e alta branca que esconde seu nojo, seus valores, suas ideologias. Para que não leiamos bufões (como J.M revelou-se ao escrever “Tem disco novo dos Racionais, tá ligado?”) os jornais, as revistas... deveria enviar o estúpido aos “Estudos Humanos”. Por infelicidade, não resolverá.
Há pessoas com complexos de superioridade, com ideologia de superioridade que se dedicam em estudar a humanidade para obterem maior bagagem para justificar suas práticas desumanas. Talvez o bufão poderia... ler mais..., observar a realidade; ou fazer qualquer coisa que o leve “parar de repetir slogans e pensar”[2].
Se formos rigorosos na leitura do “tá ligado?” encontraremos, além de falta de pesquisa mínima..., preconceito, ignorância, prática de racismo: “Chora agora abre com barulho de tiros e cachorro latindo, antecipando a trilha sonora de periferia braba”
Nesta minha afirmação, (com meu “cuspe na cara”, com meu manifesto, com meu texto panfletário???) talvez J.M também me compare aos personagens d’ A Hora do Show, sem saber se sou: branco, azul, lilás, vermelho, amarelo, escuro, preto, negro...
“Tá ligado?” é tão “claro!” J.M talvez seja Tipo Ideal: branco filho da classe média e alta que fala inglês e tem horror a dialetos periféricos: “[O disco dos Racionais] É um trabalho permeado de diálogos de brodagem entre manos da periferia”.
Talvez seja outro modelo: negro pobre que pensa ser classe média, Tipo: ...homem cordial, amigo do branco chefe da redação, neste caso, Frantz Fanon explica em Peles Negras Máscaras Brancas[3].
Quero mandar um salve para todos os doutores, poucos admitem que no RAP existem bons letristas, e esses, são unânimes em assegurar: “apesar de letristas, não são músicos”. Mantêm a “ideologia racista”. Quero mandar um salve para música clássica alemã. O pobre está impossibilitado de compor música. A impossibilidade é intelectual; temporal e geográfica.
Quero mandar um salve para o branco que adora “samba do crioulo doido”. O Movimento HIP HOP é o cachorro louco que não podem encoleirar. Quero mandar um salve para os veículos de comunicação que odeiam os Racionais, mesmo depreciativamente, são obrigados a divulgá-los.

[1] Este texto foi publicado anteriormente com outro título.
[2] Slogan de Milton Santos
[3] Frantz Fanon. “Pele Negra Máscaras Brancas” Rio de Janeiro, Fator, 1983.

Um comentário:

  1. concordo,no BRASIL o preconceito e realmente um absudo...Pessoas querendo ser melhor q as outras,mais a verdade e q ninguem e mais q ninguem...

    ResponderExcluir